Dom Orlando Brandes

Educar é cultivar o ser humano, desde o útero materno e durante toda a vida. Ninguém tem diploma acabado. Somos sempre alunos e aprendizes. Educar é “aprender a ser”. Esta é uma arte nada fácil. O ser humano expande-se em quatro direções: no domínio da natureza, no conhecimento de si, no relacionamento com outros, na abertura para a transcendência. Educação é este processo de humanização, bastante complexo e com resultados insatisfatórios até hoje. Além disso, tudo agora converge para o mercado, que hoje se chama de “horror econômico”, onde vale o que é rentável, ao passo que o lado humano-social é relegado, depreciado. O desafio da educação é este: qualificação para o trabalho,  mas sem menosprezo da solidariedade, do humanismo, da dignidade humana. Educar, então, é aprender a ser, e não, aprender a consumir. Aprender a partilhar, não a concentrar e lucrar.

Ocorre, então, que diante das deformações educacionais para educar é preciso primeiro “des-educar”. Diante do sistema pedagógico que reproduz na escola as distorções da sociedade, criando “consciências oprimidas”, é preciso deseducar através da “insurreição da consciência”, ou seja, da consciência crítica. Urge romper os procedimentos educacionais deformantes, desumanizantes. A pedagogia da indignação é bem mais construtiva que a da resignação. “O sono da razão gera monstros”. Livremo-nos da formação de “novos bárbaros”. Cabe à escola  gerar a insubmissão frente a avalanche avassaladora da absolutização do mercado, da tecnologia, da especulação, da corrupção. Educar é ajudar o ser humano humanizar-se, dar sentido a vida, internalizar convicções, assumir valores.
Aprender a servir, formar-se não para ganhar dinheiro, mas para ajudar o outro a ser mais, eis a essência da educação.

É hora, portanto, de reeducar para que o povo tenha voz e não seja apenas eco dos interesses neoliberais. A voz dá sentido, faz falar, personalizar. O eco é papaguear, ou pior, reproduzir o que os poderes decidem. Reeducar para que o povo seja autor e não ator.  O autor cria, transforma, recria. O ator representa, encena, repete. O povo precisa ser sujeito. Reeducar, superando o tradicionalismo em favor da consciência participativa que não desculpa as injustiças, nem camufla a verdade. O segredo da educação está mais nas motivações, nas razões e no significado, que fascina a aprender, do que nas imposições e ameaças. Reeducar para a justiça, para a fraternidade, para o amor solidário, é o melhor serviço que a escola presta à sociedade.

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Aparecida, SP