LUZES PARA A IGREJA NA AMERICA LATINA E CARIBE - A ASSEMBLEIA ECLESIAL NO MÉXICO

            Um dos objetivos da Assembleia Eclesial Latino-americana e Caribenha, no próximo mês de novembro, é o de iluminar as trevas que nos rodeiam. O primeiro passo para a iluminação é perceber, acolher e discernir os “sinais dos tempos”.  Deus nos fala e nos corrige de muitas maneiras, por exemplo, os sinais dos tempos. Então, vejamos alguns sinais:  O que Deus nos quer falar através do Pontificado do Papa Francisco? da amizade e fraternidade social? do avanço dos evangélicos? da pandemia de Covid-19? do envelhecimento da população? do meio ambiente depredado e das migrações? Não podemos ser cegos, surdos, mudos, insensíveis diante dos sinais dos tempos.

            Outra luz forte é o encantamento e o seguimento de Jesus de Nazaré. Não temos outro tesouro maior, nem outra felicidade, nem outra prioridade. Jesus Cristo seja encontrado, seguido, amado, adorado, anunciado e comunicado. Abramos  de par em par as  portas para Cristo. Ele torna a vida grande, livre   e   bela. Conhecer Jesus é nossa alegria, segui-Lo   é  uma  graça, transmitir este tesouro é uma tarefa. É assim que nos iluminou a Conferência de Aparecida. É hora de iluminar e dissipar as nuvens, os nevoeiros e as trevas que nos obscurecem.

            Faz-se necessário também  reacender  a  luz cujos  portadores são os “discípulos missionários a serviço da vida e da Igreja em saída”. Eis aí um “feixe de luz”. Iluminados pela Palavra nos tornamos discípulos missionários.  Bíblia e missionariedade são gêmeas.  A Palavra e a Missão  nos  impelem ao serviço da vida de nossos povos e a uma conversão pessoal, pastoral e social. Brilhe esta luz, brilhe para sempre.  Sejamos tochas, fachos, astros  iluminadores.  Jesus é a  luz  do mundo e seus seguidores também.

            Para iluminar nossa realidade eclesial e social, a Assembleia Eclesial a se realizar no México, sob a luz de Nossa Senhora de Guadalupe, é  urgente retomada da Evangelização que favorece a promoção humana  e a autêntica e integral libertação cristã. A promoção humana é parte integrante da Evangelização. Jesus promoveu a vida dos doentes, dos pecadores, dos pequenos, dos pobres. Libertou-os das escravidões,  dos  desprezos, das indiferenças, das exclusões. Jesus  é  a luz dos povos, luz das nações. Nós, seus discípulos missionários, somos sal da terra, fermento da massa, luz do mundo.  É hora de relançar, retomar, revisitar os ensinamentos do Concílio Vaticano II e do Documento de Aparecida que são dois candeeiros a brilhar, dois  luminares,  dois  astros que não se apagam.

            Uma outra luz a ser contemplada é a esperança na restauração do que  está quebrado.  Jesus, o novo Adão restaurou a imagem de Deus quebrada pelo pecado original. A imagem de Nossa Senhora Aparecida, quebrada em 206 pedaços, foi restaurada.  Todos nós fazemos a experiência da restauração da vida, na graça,  através do perdão dos pecados. O  batismo  fez de nós  novas  criaturas, ou seja, criaturas restauradas. Tantas pessoas  encontram restauração de suas vidas nas comunidades terapêuticas, nos retiros espirituais,  na cura da Covid-19, do alcoolismo, tagabismo e desordem afetiva.

            É preciso restaurar todas as coisas em Cristo, nos ensinam São Paulo e São Pio X. Nossa esperança é que Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe seja restauradora de tudo o que foi  e  está quebrado na Igreja e no mundo.

            Por fim, é preciso contar com a unção do Espírito. Em virtude desta unção espiritual, o povo de Deus sempre em comunhão com o magistério da Igreja, se torna “infalível no crer”. Os fiéis têm um senso especial, um faro, uma intuição profunda a respeito das verdades da fé. O povo de Deus é santo em virtude desta unção que recebe no batismo. Deus enriquece a totalidade dos fiéis com este instinto da fé (sensus fidei) e esta unção ajuda o povo  a discernir o que realmente vem de Deus e o que é um engano.  O Espírito Santo confere aos cristãos uma certa conaturalidade com realidades divinas.  Os fiéis são dotados de uma sabedoria que lhes permite captar intuitivamente as verdades da fé e defendê-las.

            Percebemos  que a graça da unção é uma luz interior que permite aos fiéis cristãos serem dotados da “infabilidade no crer”. Não raras  vezes  os  fiéis colaboram no discernimento da verdade da fé, excluindo os erros, as falsas doutrinas, os enganos a respeito das realidades divinas.

            Um dos temas a serem aprofundados na Assembleia Eclesial no México é exatamente o “sensus  fidelium”, o senso da fé, o sentido da fé, dom do Espírito Santo concedido aos fiéis cristãos batizados. Por outro lado, Maria, Mãe de Deus e nossa, é a primeira leiga da Igreja, é nossa irmã. O perfil mariano da Igreja antecede ao perfil petrino, sem esquecer que ambos são complementares. Estas reflexões podem ajudar na solução do problema do clericalismo, lembrando o sacerdócio comum dos  leigos  e leigas que são a maioria do povo de Deus.

 Dom Orlando Brandes

Arcebispo de Aparecida